segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Chuva

O despertador não havia ainda tocado, mas acordei. Abri os olhos, olhei pela janela: 'tá escuro, chovendo, devo ter perdido a hora! Olhei no relógio: ainda faltam 20 minutos...

O despertador tocou. Desliguei. Tocou. Desliguei. E assim seguiu a luta por uma hora inteira. É segunda-feira, véspera de feriado. Posso ficar mais um pouco? O despertador venceu. Não dava mais tempo, precisava sair. O banho ficou para a volta.

Vesti a primeira roupa que encontrei: vestido e meia-calça. Calcei as sapatilhas, sem salto mesmo. É quase feriado. Abri a janela, coloquei meu braço para fora: chove, mas não faz frio, vou assim mesmo.

Saí na porta. Caía uma garoa fina incapaz de pôr medo em alguém. Andei até o ponto de ônibus, dei sinal, entrei, sentei.

Chegando ao meu destino, tchuva! Eu, uma mulher desprovida de guarda-chuva, decidi ir correndo de toldo em toldo nessa cidade maluca. Na verdade, andando de toldo em toldo, por causa do enorme congestionamento de pedestres nessa faixa do calçadão.

Não se engane pensando que apenas os esquecidos ou inimigos do guarda-chuva, como eu, ocupavam a estreita faixa seca! Alguém me diga por que é que uma pessoa com sua "proteção polimérica" precisa disputar espaço sob o toldo? Que ande na chuva pelo meio do calçadão!!! Hunf!

Depois de ter a testa arranhada e o olho quase ter sido furado pelas arestas metálicas do aparelho maldito, decidi eu andar pelo meio da calçada. Mas tive que ir andando também, por causa da pedra do calçamento, que seca já é escorregadia, quando molhada, então, vira sabão!

Lá fui eu bem devagar, mais do que atrasada, praguejando contra São Paulo, São Pedro, e tudo o mais, desviando das poças e corredeiras que se formam no plano e nas ladeiras, respectivamente. Pisando tecnicamente com o calcanhar para evitar molhar os pés dentro dos sapatos, olho para o lado: um rapaz faz exatamente os mesmos movimentos. Escolado.

Nessa dificuldade toda, ouço: "plosh, plosh". Um rapaz de botas de borracha, calças e jaqueta plásticas, capacete, todos os itens pretos. Parecia ter saído daqueles filmes de guerras no futuro. Plosh, plosh, despreocupado. Ou prevenido? Todo paulistano deveria vir com esses itens de fábrica!!!

Cheguei encharcada ao meu destino. Entrei no elevador, o ascensorista riu. Mais parecia que eu tinha entrado no chuveiro com roupa e tudo, e estava saindo àquele exato instante. No cúmulo de meu egocentrismo, achei que o universo resolvera protestar contra minha falta de banho matutino.

Sentei à minha mesa, olhei pela janela. O céu se abria lá fora, fazia claro o dia. Bebi meu chá quente para aquecer o corpo gelado, por baixo da mesa, descalcei os sapatos para que os pés secassem: tanto cuidado para nada! Sequei com a secura do ar condicionado.

Até que enfim, é hora do almoço. Caía uma garoa fina que não ameaçava ninguém. Fui caminhando em direção ao metrô e, no meio do caminho, o mundo começou a desabar novamente. Corri e consegui entrar na estação a tempo de não ser afogada pelo novo dilúvio.

Cheguei à estação destino: quase sem chuva! Quando eu voltava... ah, não, tudo de novo!!! Bebo meu chá quente mais uma vez, descalço os sapatos molhados...

Estou calma: AMANHÃ É FERIADO!!!

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