quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Trajetória

Senhores, anuncio que hoje uma lágrima caiu.

Embora não quisesse que a lágrima partisse, o olho cansado não conseguiu mais sustentá-la. A gravidade, então, agiu sobre ela. Caiu.

Ela que um dia foi gota de rio nascente, doce e transparente, foi parar em minha taça, foi bebida, dentro de meu corpo amargou-se e virou uma gotícula de tristeza. Uma lágrima.

Podia ter virado suor ou urina, saliva ou muco, sangue ou vapor. Mas se decidiu por lágrima. E caiu.

Suicídio ou desequilíbrio, foi sozinha, nenhuma outra surgiu para acompanhá-la ou tentar salvá-la do trágico fim. Sequer uma lágrima.

O olho envergonhou-se de sua fraqueza, convocou a mão para deter a fugitiva. Mas nada adiantou: escorregou pela maçã do rosto direto ao chão. Caiu.

Esparramou-se no piso frio de pedra, despejando seus sais amargos e células mortas. Não conseguiu penetrar o solo, evaporou. Não mais uma lágrima.

Também não nascente, agora nuvem. Cairá.

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