quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Quarta-feira de cinzas

E assim acaba o carnaval.

A banda já parou de tocar, os gritos loucos dos foliões silenciaram-se, não há mais o som das buzinas, nem lança-perfume no ar, o confete pálido e imóvel no chão. Tudo se tornou cinza na quarta-feira.

Mas ainda posso ver e ouvir, distantes, os fantasmas e ecos de outrora: um rodopio no canto do salão imenso, uma gargalhada nem um pouco contida, taças de bebida sendo sorvidas em um segundo, um incauto toque de buzina, o burburinho dos que estiveram presentes, de repente até um trenzinho à minha volta.

A porta já foi fechada, a luz do dia quase não consegue entrar através das cortinas espessas nas janelas. No meio do salão, apóio o queixo nas mãos, e as mãos na ponta do cabo da vassoura. E assim fico, só, na penumbra, no vazio.

Hora de varrer o salão. Hora de guardar as máscaras, as fantasias. Hora de guardar as histórias do carnaval também. Se no coração ou escondida na gaveta mais funda da memória, depende do grau de arrependimento do folião.

Em culpa, saudade ou indiferença... assim acaba o carnaval.

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